Total de visualizações de página

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Alamedas



                                                                Ilustração: Internet


Caminho até a estrada...
A estrada que nunca vem.
Canto melodia solitária de homem do povo
exposto ao riso de quem me vê andar assoviando.

Sinto-me perdido na alameda centenária da cidade.
Sou teimoso e não me intimido
nem um pouco.
Demoro-me volvendo os calcanhares na atmosfera de escárnio.
Assim faço o mundo girar sob meus pés... Aperto o passo.
É dessa forma que prossigo, apesar de tudo e do maldizer.
Um ritmo pachorrento de cidade do interior banha-se em minhas lágrimas.
Em minhas caricaturas, em minhas pantomimas desenha-se um traço de urbanidade. Como qualquer gente do mundo eu tenho cá meus maus dias...
Quando eu era rapaz eles eram tão raros, mas agora, recomposto homem maduro, as ternuras vão-se dispersando cada vez mais no tempo e mais atenção tenho dado às brutalidades. São elas que me envolvem como uma mortalha.
Era preciso que um rapaz de vinte anos renascesse em mim, para que eu voltasse a sorrir mais amiúde.
Que fosse mais jovial, para que eu me desse conta das coisas boas que me visitam.
Nisto, e em tudo mais, o amor poderia ressurgir como um segredo dito aos meus ouvidos.
Ora, só tenho dado atenção ao homem caído no meio da rua; ao tiro que estilhaça minha vidraça, ao pequeno menino e seu olhar melancólico; ao bêbado e seu vômito, ao assassino e ao vagabundo nu.





Tenho esquecido as árvores, as alamedas...
E nisto, e em tudo mais, toda a gente daqui se parece; anda alarmada com imagens que o mundo ainda não repeliu: mendigos dormindo no colo das estátuas.
Se eu me comovo, uns zombam da minha maneira sensível
e afirmam que me atenho ao passado, que quero prolongar a juventude e fugir desta cidade...
Entre as palavras deles, veementes, escolho as minhas...
Entre carros que percorrem as ruas,
vislumbro mães, as mais humildes e seus beijos universais.
Bem sei que a fala da cidade não os comove, mas o luxo dos shoppings os ilude.
Tenho pra mim que minha simplicidade os inibe
tanto quanto as árvores seculares e sagradas.
Sei que costumam dormir, enquanto os arrebatados, como eu, inauguram o futuro e me criticam com tantas palavras, que como ventanias varrem as ruas...
Só os mais humildes, de memória e passado, me compreendem.

Valéria Áureo 


                                         Fonte: Internet

Poesia publicada em O Imparcial de Rio Pomba
em 13/07/2007