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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

A mão da Condessa e a carta de adeus




A Condessa era dada a cartas, piano, leituras, passeios pelos jardins, chás e conversas triviais.
Dias e noites em cantos suaves e madrigais.
Todo o seu tempo ia nisso, no que ela se sentia muito bem, entre os corriqueiros e banais fatos palacianos;
Do amor era refém
Em dias, meses, dez anos.
Ambos se amando e tão joviais eram eternos...
A mão da Condessa, leve como uma pluma se assemelhava à volátil espuma,
Deslizando suavemente sobre o papel de seda - a lua, onde deixava pequenos recados para o conde:
dois corações de filigranas - saudades, meu amor!
Aonde é que se esconde?
A mão do Conde, pesada como um puma, arranha a folha delicada e arrisca um rabisco.
Comete deslizes ortográficos, despetalando a última flor no palácio, com desembaraço.
Nas mãos o sabre e no corpo a armadura
Delineiam o último traço.
O fatal risco!
Escreve aflito! Estou cansado de juras, juras! Que inferno!
A Condessa os erros dele arruma com candura...
E os encaixa nos falares galantes e gentis do palácio
Com brandura:
- Para mim o amor é eterno!
Até que um dia ele grita e bate a porta

Num arroubo de loucura:
- Chega! Nada mais me importa!
Sua cultura, senhora Condessa, me atormenta e me sufoca!

Deixe-me sozinho, criatura!


Autora: Valeria Áureo
To: Conde du Marrot.
In: Docilidade dos Sobreviventes