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sábado, 19 de outubro de 2019

WORDART


Nickname: Lobo do Mar, ou Selvagem;
Tigrão, Cinquentão, Meia-idade.
Tu sonhas como seria
Ter um affaire com Maria.
Encaminhas cópia oculta
E enalteces teu pendrive:
Um Bill Gates, uma Microsoft!
Vendes mil beijos na boca
Que se fazem inocentes,
Ícones, propostas loucas,
Envidraçadas nos dentes,
Expostas no monitor.
E te ofereces, webmaster,
Fazendo upload com outras.
Na tela... No espaço... Dás enter!
Beijos entalhados no ventre
De invisível sedutor,
Embutidos nos Emails
Nos recados, nos correios
De uma loura Leonor...
Isauras, Teresas, Estelas,
Marias, Angélicas tão belas...
Tão longe, tão perto e conciso,
Resumes teu aplicativo:
Um potente hardware.
Wordart tu pões em destaque.
Copias e colas... Navegas;
E vens afoito ao ataque!
Diante do laptop, ativo...
Galante! Stop! Um hacker...
Galante e conquistador…
Emotions, documents, pecados...
Precisas deixá-los gravados
Na webcam. Meia-noite... De anseios...
No corpo, no home Page, nos seios,
Na página da negra Neide.
Delete! Mais uma ao mar!
Antes que a ingênua, incauta,
Descubra da ruiva Cleide, o avatar.
Que enciumada e triste, deixa estar...
Neide desnuda queira se matar.
Azar... Tu pensas: sobra-me a Guiomar!
Que fuja, ou te trate mal, internauta...
Ou troque o segredo, a senha,
A que melhor te convenha...
Mas não faz mal:
Neste mundo virtual
Até mesmo a Maria da Penha
Pode te consolar.
Já com a saudosa Grace,
Nem ao menos um Backspace...
No Excel dois mil e sete,
Calculas o potencial de Ivete.
No alinhamento de dados:
Uma para domingo,
Outra para sábado.
Queres levá-las com o tempo em resenha,
Arrastá-las pela Web, em aventuras.
Digitas, editas, salvas, envias e programas...
Acesso rápido. Área de transferência:
Pensas: quiçá hoje eu levo uma pra cama...
Não está Alice, mas está a Penha.
Não sendo a Rosa, talvez a Ana.
Conectado a roteador. Lento…
On line... Com sólido argumento,
Tens só um pensamento:
Realizo teus sonhos! Faço loucuras!...
Ah! Férteis mensagens, promessas,
No Skype, nas longas conversas.
Coloridas de confetes. Advertes:
Tenho mil beijos pra Beth,
Disponíveis, top secrets… Chicletes.
Para o corpo acomodar Elizetes
Nos blogs, no Facebook de Anetes.
E, tua boca cedente, ao vivo,
Em closes, by Messenger, prometes:
Segredas só para uma,
Como se só uma houvesse...
Uma paixão descabida. Um arquivo,
Um livro aberto, disseste.
Download... Sem você eu não vivo!
Mentes... À outra, à última conheces...
Insensível, à primeira argumentas:
Vê se me esquece!
Configuras, atualizas teu banco de dados,
Software, com muitas mulheres,
Mesclando funções e cores
Formatas opções de amores,
Diverte-te. Da forma que queres,
No link de tantos desejos: Lolitas,
Balzacas, mulheres insones, aflitas,
Que loucas imploram na noite:
Jamais me abandones!
Acabas falando sozinho.
“Te irritas”: Cadê a Benedita?
Por que não está a Anita?
Off line, desconectado...
Deixa ao menos um recado!
Mulheres malditas!
Acabas clicando no nada.
Na noite e de madrugada,
Na rede dos continentes...
Vagueias, persistes, insistes:
Isauras, Teresas, Estelas,
Rosas, Giseles, Helenas?
Tão belas...
Toda mulher vale a pena!
Sem saberes, ao menos onde...
E quantas, e quem são elas...
Vírus, falácias espalhas...
Mentiras, spams e banners,
Dia e noite, todo o ano;
Ah! Les femmes... @marcinhaa43
Com propósito de engano; mais uma vez.
Tramas na Rede as malhas:
Não esqueças que eu te amo!
Eu seria Maysa, Piaf, Dolores,
Uma mulher de muitas dores,
Se acreditasse em teus amores..
Basta! Some, vê se te afastas!
Apaga meu endereço!
Eu, por mim, já te esqueço!
Eu te alerto: nem és meu dono!...
Eu te pergunto: Salvar Como?
Autora: Valéria Áureo
Antologia do I Concurso de Poesias
Prêmio Amigos do Livro /Filipoços – 2010
Pag.70

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Preciosismo





Não me pergunte a exatidão das horas,

Se tenho a alma dispersada em pólen,

Onde os segundos ávidos se engolem

Vorazes, diluídos em distintas floras.



Não de mim, o que ocorre do lado de fora,

Se tenho o espírito libertado no éden,

Onde o tempo misterioso é mera retórica,

Ainda que dentro, ponteiros invisíveis me ferem...



Não sei das horas, nem o que faço todo o tempo,

Se perdido vivo no ilusório advento

De existir, não existir, de contemplar o vento.



Não sei se ainda sou, se morto ainda contemplo

O mundo, que gira com meu sôfrego sopro... Lento.

Corpo ou alma, que importa? Se eu ainda me invento?


Valéria Áureo
12/03/2009

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A Guerra dos Meninos

                                            Ilustração: Fonte  Internet
Lá do alto
No farol da Ilha de Quimera,
O menino avista o alvo...
Mira, sustenta e espera, a salvo...
Ele aponta o dedo para a esfera;
Vai começar a batalha
Na longínqua Riviera de Gargalha.
Outro menino fardado
Olha através da luneta, além da muralha,
E avança no campo minado
Empunhando a arma de metal.
O menino americano sobe a torre e toca o sino, e espera.
Carrega o fuzil e a escopeta
E, entoando o canto da vitória,
Ergue a mítica bandeira.
Os dois meninos inovam a geometria:
Novos rumos no horizonte;
Novos riscos no mapa.
Novos golpes de espada,
Novas fronteiras, além da Ribeira,
Vistas à distância na hilária bravata.
Uma bomba, uma explosão,
Um estrondoso vaticínio:
Um míssil no ar lançado...
Um artefato de alumínio:
Explode no campo inimigo
A lata de Coca-Cola.
O outro, obstinado, olha para o mar
De bolhas e espuma,
E devassa o disputado domínio
E avista o submarino invadindo
A escuna;
Avista outro jato de espuma emergindo
Avista a bomba de gás subindo.
E a ameaça de longe, nos jorros
Marrons refrigerantes,
Que a branca cobertura da bebida esconde,
Toma vulto sob a neblina.
Os dois meninos gritam e riem
Vestidos de fardas de jornal.
Brincam de guerra, inocentes,
E fazem do mundo um front,
Uma guerra de dois soldados
Um campo de dois combatentes,
O globo, um brinquedo redondo.
Uma bola de gude azul, um segredo
No game intergaláctico. A esfera!
Com dedos destros no comando,
Dois valentes na Ilha de Quimera
Lutam sem medo a fantástica batalha,
Nas ilusórias fronteiras de Gargalha.

Autora: Valéria Áureo
In: Córrego do Tempo