A costura de minha mãe
Não era de linhas e tecidos,
Que se dobravam no final do dia,
Como se dobra o sol cansado diante da lua.
Era costura de palavras, pétalas, sílabas e silêncios,
Que se mostravam decifráveis aos meus atentos ouvidos.
Eram de fios dourados, embaraçados nos pensamentos
Arrematados delicadamente com mínimas pedrarias, feitas à mão,
Que ela escolhia serenamente, enquanto me ensinava a ler e sorria.
Enquanto ela bordava a chama terrena da maternidade,
Via a magnitude absoluta da estrela nas suas crias
Que davam significado à primitiva e estranha paixão.
Valéria Áureo
26/ 01/ 2021