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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Amy Winehouse

                                                       Foto: Internet

         Ela era um ícone de voz e de estilo e poderia até lançar a sua grife de roupas e maquiagem, porque sempre teve público para o seu estilo pessoal. Público encantado, principalmente, pelo seu grande sucesso musical. À voz, podia-se agregar qualquer outra coisa, porque ela era divina. Mas ela não sabia disto, ou parecia ignorar, ou talvez, não podia suportar. Seu despojamento visual era um pedido de socorro, um grito de desespero, ou pânico, diante da magnitude de ser genial. 
                                           Foto: Internet

Tudo leva a crer que Amy Winehouse parece ter se inspirado na cantora de ópera Maria Callas, que morreu em 1977, para compor o seu look marcante e definitivo, principalmente no enigmático e melancólico olhar das deusas intimistas.
         Se não havia espaço entre os cílios para o nostálgico fado, como Callas, Amy vertia sua dor de existir, o que parece insuportável para os mais sensíveis e depressivos corações, em blues e soul, misturados ao álcool e às drogas. Nada novo no universo em que os astros não podem falhar, nem sucumbir à sua condição humana. Os fãs cobram dos ídolos a divindade perene. Isto eles não podem suportar.
         As roupas retrô, o uso do delineador líquido para ressaltar os olhos de lágrimas que nunca poderão se secar e os lábios,  quase sempre vermelhos, a faziam parecer com Callas. Lábios para blues, jazz, bebidas, beijos, dor e solidão.
                                             Foto: Internet  
  
Se foi uma "estratégia" de imagem de Amy, ou de seus produtores, envolvendo voz e representação, no mais enigmático visual displicente, deu certo. Ela fez história, inclusive com a figura, que aos poucos, infelizmente, foi se deteriorando, sob os efeitos da droga. Antes disto acontecer (porque o homem costuma ser a traça de si mesmo), até a indústria da moda, esteve interessada nela; Karl Lagerfeld usou na passarela de Londres, no ano passado, modelos com os cabelos à la colméia - típicos de Amy - inpirados na sua audácia de ser atrevidamente uma imagem conceitual. 
         Sob a maldição dos 27 anos (ou a escolha inconsciente pelo suicídio  lento e gradual), apaga-se mais uma estrela, que não agüentou carregar a dor da própria existência, onde o sucesso é condição essencial para se continuar vivo. Não se admitem derrotas.
                                            Foto: Internet

Assim, como Amy, aconteceu com Kurt Cobain, líder da geração grunge, o vocalista do Nirvana que se suicidou com um tiro na cabeça, em 5 de abril de 1994. Aconteceu com Jimi Hendrix , um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Hendrix foi encontrado morto em um hotel, engasgado com seu próprio vômito, em setembro de 1970; aconteceu com Janis Joplin, a maior cantora de blues e soul da sua geração, que faleceu em outubro de 1970, possivelmente de overdose de heroína. Aconteceu  também com Jim Morrison, o líder do grupo The Doors, que foi encontrado na banheira de seu apartamento, em Paris, em 1971 e com Brian Jones, o guitarrista dos Rolling Stones, que foi achado em uma piscina em 1969. Todos morreram absolutamente sós.


                                           Foto : Internet

         Amy cantou, sofreu e andou pela rua da amargura, pela avenida dos sonhos partidos, onde gigolôs e prostitutas podem roubar um beijo sem se arrepender... Andou por entre pessoas de sonhos destruídos. Andou onde a alegria que se encontra é emprestada, comprada, roubada, ilusória e artificial e ela não poderia mantê-la por tanto tempo... Andou pela avenida dos sonhos partidos, onde sempre podia ser encontrada, sempre andando para cima e para baixo, despenteada e suja... Amy já estava morta!

                                             Foto: Internet
         Amy deixou sua alma para trás, em uma antiga torre de igreja, como cantou.
         Amy andou e se perdeu no Boulevard of Broken Dreams...

Valéria A.Cerqueira
26/07/2011
                                             Foto: Internet


sábado, 16 de julho de 2011

... Cidades ou Ares de Minas




         Abre Campo... Muitos campos se abrem em minha alma, porque aqui onde estou agora, quase nada é natural. Outrora segui Entre Rios de Minas esperando embarcação veloz, buscando a direção da Abadia Dos Dourados, para que eu pudesse te ver Açucena em flor.
         Águas Formosas, Águas Vermelhas, não importava... Tudo fazia bem. Tudo vinha dessa Água Boa, que não era lagoa da Bahia, mas escondida Abaeté, entre flores.
         Florescia em Minas uma cidade, muitas... Além Paraíba fazia correr o rio, mostrando que o povo concordava em ver o mapa delineado em verde escuro, à moda de barrancos e ribeiras. Vamos além... Era Alvorada de Minas que me acordava, enquanto cantava a Araponga, lá pelos lados distantes, onde nunca habitei. Eu teimava em ser pássaro, em ser Pomba, talvez... Próxima de mim Barbacena me falava das rosas, íngremes ladeiras, frio com cor de Capim Branco morro acima... E eu amanhecia em Belo Horizonte, ou anoitecia no Belo Vale, onde minha vista não alcançava, seguindo o destino do Belo Oriente, que acenaria para mim, assim que eu sentisse perfumes exóticos.
         Enquanto contavam-se estrelas, tu visitavas Cataguases. Querias o sono no Bom Jesus do Galho, embalado em árvores, bem junto do Buritizeiro. Mulheres de Minas têm Boa Esperança... Lavam à beira das águas, alvejam no rio Sem-Peixe, em Biquinhas, em Bicas barrocas, alvuras e azuis que eu nunca soube encontrar na Borda da Mata.
         Melhor fizeram os pássaros e as abelhas, tão diferentes de mim, que trataram de voar em pleno anil. Tanto fazia, já que eu tinha me desviado na distante metrópole, onde pouco se vislumbra o céu... Eu precisava de Bom Repouso, enquanto meus olhos vissem o Bonito de Minas na precisão dos meus óculos, nos reflexos da Cachoeira da Mata.
         Tu jogaste tuas Caldas adocicadas sobre o Campo Florido e cascatas. Areados, a reluzirem lá dos altares do Alto da Capelinha, que é de Cedro de Abaeté, onde eu fazia as minhas preces. Ergueste, silenciosamente, teus Oratórios.
         Flamejavam Cristais, Diamantina, Esmeraldas e o que se agregava ao meu coração não eram pedras preciosas; eram as Dores do Turvo, que impunham o luto da nostalgia. Eu me perdia na Serra da Saudade... Turvo era o riacho, depois das chuvas do coração aflito.
         Tu me disseste que era preciso saber viver; esperaste por mim... Espera Feliz! Ordenavas... Que eu te ame para sempre.
         Fortuna de Minas, tu bem me prometeste um Porto Firme. Promessas não... Juramento! Sei que tu guardaste tesouros no fundo da Lagoa Dourada, ou da Lagoa de Prata, onde eu pudesse garimpar o amor.
         Liberdade, Liberdade, ainda que tardia. Era o que náufragos do Mar de Espanha esperavam, porque não existiam fronteiras, onde pensavas erigir teus Arcos, ou uma Nova Ponte. Entre as distâncias dos nossos olhos apaixonados, tu te ergueste com determinação, com força Matutina, como a estrela da cidade. Entre Folhas tu despertaste buscando brilhos para me presentear. Quem sabe eu quisesse um anel de Ouro Preto, ou de Pedra Azul, Turmalina; anéis que não se quebram, só para me falares do amor que tu me tinhas... e que não se acabou.
         Da Porteirinha eu avistava a Ponte Nova que tu ergueste sobre águas nos meus sonhos, contornando a Mata Verde, só para voltares para mim teus Olhos d’Água, que eram infinitamente tristes.
         Se tu pensaste que eu precisava descansar, poupando-me de tanta dor, em tempo avisar-te-ia: antes, bem antes do Pouso Alegre nos distantes Prados, eu navegava em Rio Manso, Rio Novo, Rio Doce, Rio Acima e rio abaixo... Teimava em ser peixe.
         Rio Espera, deixa-me confessar...
         Ah! Rio Pomba... Conheceste todos os meus segredos e assim fiquei a Descoberto, na tua distante geografia. Abandonei-te. Santa Bárbara que me proteja dos raios e dos trovões nas noites de tempestade; por isto persigno-me, faço o sinal da Santa Cruz do Escalvado, clamo por Perdões, por Santa Rosa da Serra.
         Três Corações eu precisaria para te amar tanto, porque sempre tive Soledade de Minas, ainda e para sempre Viçosa.
         Minas! Dia e noite brilhará a Estrela d’Alva... Quanta Luz!
        

Valéria Aureo


sábado, 9 de julho de 2011

Janelas Azuis

Foto H.M.

Hoje me mandaste retratos da casa branca,
Que um dia disseste: eu tive e ainda queria ter!
Em meio à subida de pedras, na Serra que a esconde de olhos,
Uns indiferentes; os meus, desejosos, gostariam de ver.

Pensei no amor ao subir a alameda e jardins,
Que com janelas azuis sei que tu pintaste.
Sendo uma tinta do céu, uma cor do mar… refeito
Do que precisa ser Friburgo, ainda mais perfeito.



Vendo a casa sei que teu coração para lá costuma fugir.
Aqui irás me deixar em meu mundo triste, desejando ir…
A minha casa vazia, sem cor, me prende, enquanto a tua...
Bem, a tua é branca, tem meninas, e tem janelas azuis.


Ah! Isso sim eu vejo: mata em torno, quintal, vidraças…
A velha churrasqueira de brasa, que não mais se vê acesa.
 

A horta, a plantação, a passarinhada livre em graça… O quintal e tudo que nasce e que se quer à mesa.
Se fores para a casinha branca me leva a conhecer,
Pois não posso mais viver, em meu mundo escuro;
Se uma cor azul contorna o branco antigo muro ,
Exibe Friburgo e o que a tua alma não quer esquecer.
Valéria A. Cerqueira

Foto: H.M.