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terça-feira, 26 de março de 2013

Apelação Cível - In Verbis






In Verbis



(Apelação Cível)





O avesso do processo, costurado outrora.

Inconsútil, despregadas pautas, ora

Improcede; tecnicamente inconsistente.

Peça exordial. Eu me declaro incompetente.

Assim mesmo peço para argumentar, sobre papéis,

Pois o que não está nos autos, no mundo não existe.

Tempestivo, que eu fundamente a minha negativa,

Coloque em palavras o que a alma clama e insiste...

Devora a minha lucidez, do pouco senso que resiste.







Acostado ao peito, aos autos o requerido.

Alegações finais, provas incontestes

De dissabor, mágoa; dano sofrido...

Peça inicial, intempestiva, protocolada

Antes. Agora procedente, acautelada.

Deslumbro o alegado: injustiçada!...

Separação ou morte do amor. Ajuizada.







Pelos conciliatórios, in verbis, apelo.

Atos processuais. Ratifico a data.

Rasgo papéis avulsos... Retifico. Desacato.

E o nó no coração tudo arremata.

E brota na última instância o libelo

Da noite. É finda a fria audiência.







Suas pernas tremem e advogam,

Denunciam impaciência e dolo...

Atadas a mim eu protocolo... Inocência!

Na papelada, nos tribunais declaro:

Maior instância é o coração, o pensamento;

Que falem as partes do seu sentimento!









Concluso; o tempo é diluído na descrença

E o amor é deixado pra trás, em desavença.

Requerida a distância aos litigantes... A lei!

Antes que arbitrariamente haja ofensa.

Revel, entregue a si, à desvalida sorte,

Sem a defesa do réu. Deu-se a requerida morte!









Meritíssimo!... Declare que entre ré e autor

Ainda há inconteste um grande amor...

Eis o meu pedido! Da inicial eu nada sei...

Inverte-se o alegado. Provas insuficientes...

Absolver, condenar, desfazer-se do orgulho?

Minha alma por direito retomar, sair do cativeiro.

Tendo sido ofendida, voltar inteira hei!







Mais que isto, excelência... Seja um justiceiro!

Se, apesar do sentimento, ante tal esbulho

Preferir o autor desalojar da alma esta

Que ora requer, alega e ainda implora,

Declare o douto juiz a sentença irrecorrível,

Mesmo sabendo que na contestação a ré subjugada chora...







Determine:- Cumpra-se!... Absolvido é o autor!

Mas para sempre carregará imperecível dor,

A de declarar, doutor, extinto um grande amor,

Pois todo  apaixonado, excelência, não se esqueça,

É um desgraçado, um solitário; é um eterno sofredor.

Autora: Valéria Áureo





Ilustração: Fonte -Internet

Valéria Áureo


V Premio Literário Canon de Poesia 2012 - pag 72
Coletânea
Grupo Editorial Scortecci

 





domingo, 17 de março de 2013

Como Será?

Imagem- Fonte: Internet



                                                                                  


Como será viver como cachorro,

Ou planta, ou outra criatura?

Como será, perder-se pela rua,

Ladrando,  latindo, ganindo,

Apanhando, sendo apenas cão sem rumo,

Uivando para a lua?...

Cão vadio, lambendo as próprias feridas...

Sem casa, sem carinho, buscando um resto

De menino que encontrar no homem,

Capaz de se vergar para um afago,

Esquecendo-se das chagas do corpo magro.

Como será ser um cão sarnento, descarnado,

Cheio de mágoas,

Que só sabe ser cachorro, em desatino...

Andando a esmo, percorrendo morros?

Como será, viver correndo sem destino,

Querendo um dono, um canto, um paradeiro

Para estender o corpo exausto e sujo

E descansar por um dia inteiro,

Para encontrar num homem

Um resto de menino

Capaz de se vergar

Para um afago?


Autora: Valéria Áureo