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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Tempo

Sinto-me como alguém que, ao menor descuido, descobre que lhe foram levados seus últimos dez anos. Como é estranho olhar no espelho e não enxergar mais aquela menina de vinte anos. Vou aos poucos concluindo quem foram os meliantes, autores do furto de minhas já não mais incontáveis horas. Acontece que o próprio tempo é um ludibriador de primeira classe! Quando poucos anos eu ainda possuía, com toda sua majestade e imponência, me vendeu a imagem de imensidão em quinze, trinta, sessenta anos! Agora, tendo trilhado uma parte do caminho, percebo que fui vítima de propaganda enganosa. Mas ele teve seus comparsas! Pequenas distrações e ilusões foram implantados para que o próprio tempo tivesse a oportunidade de escorrer pelas minhas mãos. Entreguei, displicente, muito do meu bem mais precioso, assim 'de bandeja' para quem menos merecia.
Autora: Candice Aureo

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Vespas e versos

                             Intervenção na Imagem:  
                                   Valéria Áureo

 
Verso... Mal o tenho pronto; pouco no início, ainda sendo meio,
Depois que uma enxurrada de nada no silêncio me deixa.
Impetuoso, quero expô-lo aos toques, nas maciças aldravas,
Evocado às portas rudes e fechadas de remota queixa.
Arrastado por uma cheia de suaves e miúdas palavras:
Ora teclado, ora caderno, ora lamúria, que desajeitado leio.

Vou fazendo a rima aos poucos, no exíguo e escuro elevador,
Contornando a água que lentamente veio pouca e turva...
Ora de amor, ora de alagamento, ora de tardios encantos...
Em parágrafos, títulos, redondilhas e sílabas na curva,
Que docilmente imagino, escrevo, apago em disfarçados prantos,
Na rua, na sala de visitas, no hall, no fim do corredor...

Passam por mim a estrofe, os versos livres cata-ventos,
Como barcos, telas de plasma e dourada arte criptográfica,
Quando ainda nem há luz e logo se insinua tíbia sombra,
Dormitando nas linhas do papel, sob a caneta esferográfica...
Verso não quer vir, ou ir, mas enfim me arrebata e tomba.
Quantos deles diluídos em lágrimas?... Rios lentos.

Separo do trigo o que não quero e jogo no ribeirão,
Na mudança das monções, nova direção do vento;
Aguardo a revisão, como de um texto inacabado.
O ponto e vírgula e a reticência submetem-me atento,
Como dócil e constante; benévolo servo subjugado:
Alteração de rumo a nado, parágrafo e travessão...

Em que sol é posto e ao final se reflete nas conversas,
Escrevo, tendo o derradeiro amor como inicial pretexto...
Ideias românticas a amontoarem-se em desarrumada pilha.
Semana inteira de domingos, fora do missal, fora do contexto,
Canto fora da época, como a ardilosa raposa em armadilha...
Escritos de amor, sempre às vésperas, ao contrário... Às pressas.

Circunstanciais, sibiladas conversas... Não faz mal!
Coloco flores na jarra, decifro sussurros, arcanos dos cofres:
Viro o casulo do avesso a procura do indescritível poema,
Vespas aveludadas voam velozes em apenas sete estrofes,
Afoitas articulando nos ares, sinuosas... Será que vale a pena?
Encerro-as no alfinete imperceptível e decisivo do ponto final.

Pontos reticentes espetam as asas invisíveis das abelhas no mural...
A sétima estrofe fica abreviada a três tímidos versos.
Acaba suave, volátil, veloz, mas  muito desigual.

Autora:Valéria Áureo 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sorvete

                                              
                                                                                                        Fonte: Internet





- Tu sabes do amor perfeito?

Duas reviravoltas no peito.

Dois corações inseguros,
Aos pulos. Desfeitos.

Enquanto riem no escuro

E comem coloridos confeitos.

Ela - doce deleite -

Açucarada. 
Infante: o amor jujuba!

- Tu sabes do amor inocente?

Ele? Quer mais... Quer mais...
Mãos dadas...

Sorver - te quente.

Valéria Áureo
3/01/2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Mar Flat

Ilustração: Internet







Candice que:
-Tirando a saudade
Terremoto,
Sobra
O abraço no ar,
Ondas sem mar
Dentro do copo?

Candice que:
-Tirando a saudade
Maremoto,
Sobra o mar flat,
Beijo luar
Com chocolate?...

Valéria Áureo
09/10/2014

To: Candice A.C.L da Fonseca

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mãe




As flores de minha janela
Tão belas!
Fazem-me lembrar dela.

Valéria Áureo

14/05/2015

sábado, 25 de abril de 2015

Olhar Infinito

                                                                     Ilustração: Internet




Ele não a olhava simplesmente;

Ele a contemplava
Soberanamente,

Com adoração e amor místico

- Peixe nadando no Pacífico -

Enquanto respirava aflito.

Ela mergulhada no poço,
Por instinto...

No rito

Do olhar infinito 
Do moço.

Valéria Áureo
25/04/2015

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Se tanto



                                                              Fonte: Internet

Se a ama e tanto

Perca- se no seu encanto,

Não apenas porque ama,

Fantasiosa - mente como num conto...

Não apenas, por enquanto.

Ache-se: um encontro,

Enquanto a ama

Se tanto.


Autora : Valéria Áureo
21/01/2015

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Montanhas do Espírito Santo


                                         Fonte: Internet

Faço orações diante das pedras...
Pedras de altares -  eu na estrada.
Elas nas montanhas; elas de norte a sul...
Elas, mais humildes que eu, prostradas...
Acolhem silentes a minha súbita chegada.

Melhor lugar não há para falar com Deus:
Entre as plantas, matas de Itaguassu;

 Nos ares distantes da infância
De meu pai menino em São Mateus...
Sei que a pedra não é fria como me parece
- é mármore, que o menino nunca esqueceu.

Do Frade e da Freira o granito arquiteto,
Acolhe do meu pronunciado soluço, o eco.
Cálida, a minha alma aos poucos arrefece.
É a pedra que a vida inteira distante
Em mim toca e ao menino aquece,
E anuncia tímida e constante
Com um rochoso e plúmbeo manto
A chegada de meu pai ao Espírito Santo.

Autora: Valéria Áureo
To: Zoberto Áureo de Souza

sábado, 10 de janeiro de 2015

Coração

                                                                             Fonte: Internet





Furta meu coração,

              Roubo... Furta-cor em ação.

Mar de viração,

              Vinha na correnteza;
Brisa suave pra terra,
Em minha direção.

Sentimento do mar oriundo:
Amor, ternura, paixão?...
 

              Eu não tinha certeza

Se armado com um arpão.

             Furta meu coração,

Saudade e conspiração,
Perfume guardado em ânfora. 

            Corrente e cadeado, 
Dos segredos do mundo,

Levando a sua leveza

            Pesada na incerteza
Da contradição.

Costado, mergulho e âncora

           Navio... Tampa de alçapão
Das águas do mar profundo:
Despressurização.



Autora: Valéria Áureo
10/01/2015