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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Prêmio UFF 2013- Posto Nove




Uma chega, de coração machucado,

Outra sai feliz e iludida,

Em paz com o namorado,

E o copo de uísque na mão.

Chega de saudade!... Ela diz.

Encontro! Six o’clock!

Ela é carioca... Com sorte

Na aposta se ganha o dote

E ele vem dançar o rock
No balanço do decote.

Asdrúbal trouxe o trombone...

Silêncio! Ligaram o microfone;

Ouvi gritar o meu nome.

“Simbora” pra Joana Angélica...

Antes de a festa acabar?

Não posso. Vou pegar meu violão.

Vou fazer uma canção.

Uma vem e é só soluço, colérica:

Você não soube me amar!...

Outra vai tentar a sorte

Ser a musa da South América.

Faz samba pra pedir perdão. Briga não!

Faz samba só por ciúme. Traí não!

Vem comigo para a praia... Chora não!

Que o amor permanece intacto,

Do primeiro ao último ato.

Segura a minha mão... Vai embora não!

Faz samba, para não perder o costume.

Faz samba pra contar o crime.

Desilusão. Nas bandas de carnavais:

Bela jeunesse dorée, filtro solar da fidelidade.

O democrático, o démodé amor total. Felicidade!

Areia de Ipanema; vim ver esta cidade,

Eu vim viver, vim namorar... Nada aqui é igual.

Beijo no cinema, surfe no Arpoador...

Vim beber a solidão,

Vim beber a minha dor.

Loura, morena, estrangeira,

Oh! Baybe, não...

Eu quero mais é ser feliz!...

Audácia, Leila Diniz,

Barriga de ventre livre

E o avião para a Austrália.

Gabeira tanga crochê...

Uma vem, outra vai,

Encobrindo a genitália.

O point do apito, dos novos mitos,

Nada, nada, nada... Sussurros e gritos.

Aplauso ao pôr do sol. Stop,

Que a lua já vem e a noite cai

Na Vinicius de Moraes.

Uma chega e outra sai.

Ritual de Ipanema às seis,

Passarela da praia e suas leis.

Loura, morena, mestiça brasileira,

Aplauso, assovios e vaias,

Verão após verão, nas pernas, nas curtas saias...

Quero passar, um weekend com você!

Hoje é dia de rock, de auê.

Um ano inteiro em cartaz...

Dando verde no Ibope.

Vem comigo, para o banco de trás!

Sem tristeza não se faz um samba não;

Sem alegria não se faz um poema não.

Partirei agora, gangue noventa, de vez...

Não me diga que está com medo

Do circo voador, dos beijos meus.

O amor não é brinquedo,

Ai... Eu chego aos sessenta e seis

E ela sai dos dezessete.

Eu fico, ela canta, ela vai...

Rindo, mascando chiclete.

Para se fazer um samba e ser feliz

É preciso ter beleza. Agora diz!

É preciso da beleza e da tristeza...

Faz... Faz samba pra dizer adeus.  
                            

   Autora: Valéria Áureo

13/12/2013
Poesia 1ª colocada no
Prêmio UFF de Literatura 2013 -Vinicius de Moraes 100 Anos
Antologia de Textos premiados - Poesia- Crônica- Conto; página 21- Editora da UFF.




domingo, 20 de outubro de 2013

Não era vulgar...


                                                                            Ilustração: Internet



Não era vulgar o seu sorriso,
Apenas comprometido
Com a solidez do dente.
Natural era o beijo,
No matinal riso de chegada,
Na aguardada eternidade, de mãos dadas...
Urgência, buscando a boca desejada.
Não era banal o seu olhar,
Perdido na madrugada,
Turvo, nostálgico, transtornado
Em jorro infernal de enigmas.
Sem timidez, eis... Insinuar visitas...
O que buscavam esses dois matizes de aurora?
Esse hábito de amar e de conter-se,
De provocar e seduzir: ciúmes...
No público encontro sensual?
De mãos, de lábios, de ter-se.
Não era desmedida fruição aquele extenuar-se,
Mas galante par de criaturas,
Que dois, enlaçados, um - juntos -
Projetam sombra de precisa escultura.
Provisório estar assim... Beijar-se.
Intolerável enfim, deixar-se, perder-se,
Sustentado antes pelo encontro,
Tênue e solitário agora, pelo ir-se.
Não era vulgar o seu sorriso,
Não era banal o seu olhar...
Escultura em lágrimas ao partir.




Autora: Valeria Áureo
                                                             Ilustração: Internet

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Interruptor

                                                                   Ilustração: Internet


Ela foi ao encontro, ornada de lua
- Saudade!... Tenho  estrelas na mão
E raios de sol no cabelo. 

Ela atravessou a cidade escura, 
Toda iluminada e feliz,
Contando os segundos para tê-lo.
Beijos elétricos nos lábios guardando a paixão...
Ele olhou a luz no entorno... Olhou o sorriso dela.

Apagou-a  como se assoprasse uma vela
E disse simplesmente: não!

E ela foi da luz à escuridão.

Autora: Valéria Áureo

17/09/2013


                                                                    Fonte: Internet

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Infinitos ecos

                                                               Fonte: Internet





Dá-me um papel, areia, vento...
Um sentimento,
Para escrever no tempo,
Contra a luz, ao relento,
Ao ar livre, trancado no convento,
Qualquer que seja o instrumento.
Uma palavra vinda do silêncio,
Do abafado grito,  no escuro,
Para acolher e desnudar o encoberto,
Sob o grão maduro.
A areia, a gota,
Para eu fazer um rio.
Desfazer o avesso do deserto,
Para tocar por dentro, por perto,
O que é distante,
O que é instante certo.
Dá-me o que é do  rio sempre,
O mar, antes mar aberto,
Agora estrangulado em golfos,
Península, pensamento
Todo descoberto...
Mapeado, decifrado,
Interrompendo o naufrágio no infinito...
No infinito leito, onde reverberam ecos 
Das palavras de lamento.
Dá-me um papel, areia, vento... 



Autor: Valéria Áureo e Zoberto Áureo ( alguns versos ao telefone)




terça-feira, 26 de março de 2013

Apelação Cível - In Verbis






In Verbis



(Apelação Cível)





O avesso do processo, costurado outrora.

Inconsútil, despregadas pautas, ora

Improcede; tecnicamente inconsistente.

Peça exordial. Eu me declaro incompetente.

Assim mesmo peço para argumentar, sobre papéis,

Pois o que não está nos autos, no mundo não existe.

Tempestivo, que eu fundamente a minha negativa,

Coloque em palavras o que a alma clama e insiste...

Devora a minha lucidez, do pouco senso que resiste.







Acostado ao peito, aos autos o requerido.

Alegações finais, provas incontestes

De dissabor, mágoa; dano sofrido...

Peça inicial, intempestiva, protocolada

Antes. Agora procedente, acautelada.

Deslumbro o alegado: injustiçada!...

Separação ou morte do amor. Ajuizada.







Pelos conciliatórios, in verbis, apelo.

Atos processuais. Ratifico a data.

Rasgo papéis avulsos... Retifico. Desacato.

E o nó no coração tudo arremata.

E brota na última instância o libelo

Da noite. É finda a fria audiência.







Suas pernas tremem e advogam,

Denunciam impaciência e dolo...

Atadas a mim eu protocolo... Inocência!

Na papelada, nos tribunais declaro:

Maior instância é o coração, o pensamento;

Que falem as partes do seu sentimento!









Concluso; o tempo é diluído na descrença

E o amor é deixado pra trás, em desavença.

Requerida a distância aos litigantes... A lei!

Antes que arbitrariamente haja ofensa.

Revel, entregue a si, à desvalida sorte,

Sem a defesa do réu. Deu-se a requerida morte!









Meritíssimo!... Declare que entre ré e autor

Ainda há inconteste um grande amor...

Eis o meu pedido! Da inicial eu nada sei...

Inverte-se o alegado. Provas insuficientes...

Absolver, condenar, desfazer-se do orgulho?

Minha alma por direito retomar, sair do cativeiro.

Tendo sido ofendida, voltar inteira hei!







Mais que isto, excelência... Seja um justiceiro!

Se, apesar do sentimento, ante tal esbulho

Preferir o autor desalojar da alma esta

Que ora requer, alega e ainda implora,

Declare o douto juiz a sentença irrecorrível,

Mesmo sabendo que na contestação a ré subjugada chora...







Determine:- Cumpra-se!... Absolvido é o autor!

Mas para sempre carregará imperecível dor,

A de declarar, doutor, extinto um grande amor,

Pois todo  apaixonado, excelência, não se esqueça,

É um desgraçado, um solitário; é um eterno sofredor.

Autora: Valéria Áureo





Ilustração: Fonte -Internet

Valéria Áureo


V Premio Literário Canon de Poesia 2012 - pag 72
Coletânea
Grupo Editorial Scortecci