Dá-me um papel,
areia, vento...
Um sentimento,
Para escrever no
tempo,
Contra a luz, ao
relento,
Ao ar livre,
trancado no convento,
Qualquer que seja o
instrumento.
Uma palavra vinda
do silêncio,
Do abafado
grito, no escuro,
Para acolher e
desnudar o encoberto,
Sob o grão maduro.
A areia, a gota,
Para eu fazer um
rio.
Desfazer o avesso
do deserto,
Para tocar por
dentro, por perto,
O que é distante,
O que é instante
certo.
Dá-me o que é
do rio sempre,
O mar, antes mar
aberto,
Agora estrangulado
em golfos,
Península,
pensamento
Todo descoberto...
Mapeado, decifrado,
Interrompendo o
naufrágio no infinito...
No infinito leito, onde
reverberam ecos
Das palavras de
lamento.
Dá-me um papel, areia, vento...
Dá-me um papel, areia, vento...
Autor: Valéria Áureo e Zoberto Áureo ( alguns versos ao telefone)