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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Previsão do tempo



                                                        Serenata do Adeus

 




Um dia ele olhou mais detidamente para o céu

Do que o costume...

Prestou atenção no tempo;

Destilou certo azedume.

Apagou-se  dentro dele o lume.

No cinzeiro esmagou a brasa do cigarro

Aceso/apagado/esfumaçado -  ao final queimado...

Disse que estava nublado, escuro,

Prenúncio de tormentas e ventania.

Vai chover!... Previa...  Nem um afago... Mau augúrio.

Nada de encontro, balbuciava entre dentes;

Não poderia sair. 
...Saiu e colocou perfume.



Outro dia ele baixou os olhos, olhou para o chão,

Para ela não.

Parecia entediado.

Falou do tempo:

- É... Vai chover! Sussurrante e conciso.

Disse que precisava pensar, entre repentes;

Saber o que sentia no coração.

Desconfiada ela chorou... 
Quanto tempo ele não  dizia:

- Saudades, meu amor!



Outra vez ficou tarde... Muito tarde.

Escuridão alternando  luz: anoitecendo, amanhecia,

E o calendário desfolhava folhinhas dos semanais...

Ventava, molhava, secava, nublava e chovia.

Outras vezes o sol era tíbio ou ardia...

Amanhecia janeirando, doze meses,

Decembrando nas árvores de Natal
Os vagalumes.
Que falta dos beijos seus!...

Ele nunca mais apareceu,

Nem mesmo para lhe dizer adeus!



Autora: Valéria Áureo
In: Sono das Pedras


01/10/2010

domingo, 18 de setembro de 2016

Águas do leito








Banhei-me no ruído de espumas;
Havia o frescor das vagas; frescas folhagens...
Procurei  o tesouro na ilha, querendo fortunas.
Encontrei o areal de prata revolvendo as dunas.
Colhi  cascalhos das margens,

Enfeitei-me de gotas e prudência.
Chovia.


Persegui borboletas nos ventos.

Refleti o sol na paisagem de inocência.

A noite prometia os fulgores da lua.
Conversei com lavadeiras nas pedras,

Onde os lençóis brancos elas batiam.

Recolhi palavras de anil e sapiência.
Eu ouvia.


Refugiei andorinhas da vidraça,
Experimentei embalos na barcaça
Havia pescadores com redes...

Envelheciam, bebiam, matavam as sedes.
O menino, encantador de passarinhos,

Contou-me de sua experiência
Eu crescia.



Ensinou-me a falar com os peixes

E a respirar fundo no mergulho...
Era uma utopia o que sabia.
Enquanto pescava sabedoria,

Levava para casa lambaris em feixes,

Deixava no rio a candura.
Eu via.


O rio escoa-se repetido e a criança ria.

No álveo destino de ensinar o menino,
O rio dizia que no leito antigamente
A água transbordava bem distante.
Se na manhã de prata era constante,

Noturno o rio vinha implorar clemência

Morrendo na água escura.
Eu sentia.



Valéria Áureo



25/11/2009

domingo, 11 de setembro de 2016

FEMININA





Ilustração: Internet

                                Ela  ronda o amor

Mordiscando mel...
Ajeita os cabelos num ninho
Sob o chapéu.
Ela digere o amor...
Sublinhando com a ponta da língua
A palavra FELICIDADE
Escrita na xícara de café.

Autora: Valéria Áureo