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sábado, 22 de setembro de 2018

No Meio do Caminho da Marquês de Abrantes


“No meio do caminho tinha uma pedra/ Tinha uma pedra no meio do caminho”.
No meio do caminho tinha uma perda. Tinha uma perda, no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra, um revólver, uma bala, uma perda, enquanto andava pela rua o homem despojado de malícias.
“Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas”.
Um corpo octogenário estirado, uma rosa rubra de sangue estampada na camisa. A massagem cardíaca, o sangue se esvaindo e contornando os desenhos da calçada.
Nunca me esquecerei da fuga do sopro divino!
Havia uma bala travada no peito de quem inocentemente completava a rotina da tarde, carregando sua sacola de compras de ingenuidades.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho da Marquês de Abrantes tinha uma pedra, tinha uma bala...
No meio do caminho tinha uma pedra, uma bala, uma perda... Morte na Marquês de Abrantes.
Nunca me esquecerei desse trágico poema na minha rua.
Valha- me Deus! Por isso eu quero a espada de Cervantes!


Autora: Valéria Áureo

To: Nelson Musachio, de 79 anos, morreu após ser baleado na calçada da Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, na Zona Sul do Rio.