Uma chega, de coração machucado,
Outra sai feliz e iludida,
Em paz com o namorado,
E o copo de uísque na mão.
Chega de saudade!... Ela diz.
Encontro! Six o’clock!
Ela é carioca... Com sorte
Na aposta se ganha o dote
E ele vem dançar o rock
No balanço do decote.
No balanço do decote.
Asdrúbal trouxe o trombone...
Silêncio! Ligaram o microfone;
Ouvi gritar o meu nome.
“Simbora” pra Joana Angélica...
Antes de a festa acabar?
Não posso. Vou pegar meu violão.
Vou fazer uma canção.
Uma vem e é só soluço, colérica:
Você não soube me amar!...
Outra vai tentar a sorte
Ser a musa da South América.
Faz samba pra pedir perdão. Briga não!
Faz samba só por ciúme. Traí não!
Vem comigo para a praia... Chora não!
Que o amor permanece intacto,
Do primeiro ao último ato.
Segura a minha mão... Vai embora não!
Faz samba, para não perder o costume.
Faz samba pra contar o crime.
Desilusão. Nas bandas de carnavais:
Bela jeunesse dorée, filtro solar da fidelidade.
O democrático, o démodé amor total. Felicidade!
Areia de Ipanema; vim ver esta cidade,
Eu vim viver, vim namorar... Nada aqui é igual.
Beijo no cinema, surfe no Arpoador...
Vim beber a solidão,
Vim beber a minha dor.
Loura, morena, estrangeira,
Oh! Baybe, não...
Eu quero mais é ser feliz!...
Audácia, Leila Diniz,
Barriga de ventre livre
E o avião para a Austrália.
Gabeira tanga crochê...
Uma vem, outra vai,
Encobrindo a genitália.
O point do apito, dos novos mitos,
Nada, nada, nada... Sussurros e gritos.
Aplauso ao pôr do sol. Stop,
Que a lua já vem e a noite cai
Na Vinicius de Moraes.
Uma chega e outra sai.
Ritual de Ipanema às seis,
Passarela da praia e suas leis.
Loura, morena, mestiça brasileira,
Aplauso, assovios e vaias,
Verão após verão, nas pernas, nas curtas saias...
Quero passar, um weekend com você!
Hoje é dia de rock, de auê.
Um ano inteiro em cartaz...
Dando verde no Ibope.
Vem comigo, para o banco de trás!
Sem tristeza não se faz um samba não;
Sem alegria não se faz um poema não.
Partirei agora, gangue noventa, de vez...
Não me diga que está com medo
Do circo voador, dos beijos meus.
O amor não é brinquedo,
Ai... Eu chego aos sessenta e seis
E ela sai dos dezessete.
Eu fico, ela canta, ela vai...
Rindo, mascando chiclete.
Para se fazer um samba e ser feliz
É preciso ter beleza. Agora diz!
É preciso da beleza e da tristeza...
Faz... Faz samba pra dizer adeus.
Autora: Valéria Áureo
13/12/2013
Poesia 1ª colocada no
Prêmio UFF de Literatura 2013 -Vinicius de Moraes 100 Anos