Total de visualizações de página

domingo, 7 de maio de 2017

O café



No café das duas horas,
Meu coração comprometido,
Fica dolorido e chora.
É hora em que a emoção recolhe
Os ansiosos sonhos, e me escolhe,
Eu, que tenho tantos anos percorridos.
Olho pra trás destoado, em desenganos,
Enternecido pela mão do tempo.

Às duas horas é meu tempo de saudade
Em que eu sorria para minha mãe.
Acariciadas em afagos mudos, eu e ela,
Configurando em suave lentidão, a minha idade.
E nós plantamos as mesmas samambaias,
Os mesmos beijos e as mesmas dálias,
Dependuradas, cada uma, nos vãos,
Desse jardim suspendo, insólito, desbravado,
Magnífico, etéreo, iluminado,
Erguido a quatro mãos.

No café da tarde ainda colho flores
Dessas saudades, que plantei aqui,
Sanguíneas, rosas encarnadas,
Cujo perfume destilei de ti.

Há ternura às duas da tarde,
Há violetas e palavras soltas,
E chuva, planos, um café, mais outro...
O eterno afago das mãos de minha mãe
Entre o café, o bolo, o pão e o biscoito...

Às duas horas é meu tempo de saudade
Em que eu sorria para minha mãe.


Autora: Valéria Áureo
In: Sentimento Disponível