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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Silêncio I







Há silêncio noturno vazado pela lua,
Entre a pausa do choro do recém-nascido e a rua.
Há silêncio declarado pela sensatez da boca:
Melhor calar, que ferir o ser amado.
Há silêncio no coração amargurado,
No espaço da dor e da lamúria rouca,

Na contemplação do Cristo crucificado.
Há silêncio sólido, denso no peito rasgado,
Demorada ausência de palavra ou sentimento.
Há silêncio ultrajante, insistente, cúmplice,
Pausado, doloroso, mórbido e lento.
Há silêncio de impacto, estático, compacto,
Que se dilui a cada sílaba solta ao vento...
Há silêncio na demência e na sabedoria.
Há silêncio na cabeça de quem cala,
Para ouvir melhor,  se antes ria.
Há silêncio camuflado pela tosse.
Há silêncio no que se sabe posse...
E antes nem se cogitava hipótese...
Silêncio permanente, oculto num vão
Da parede oca; ausente o pensamento.
Há silêncio no azul, no mosteiro, no sem fim do poço.
Há silêncio na vergonha e na humilhação do moço,
Depois de se pedir e se escutar definitivo não;
Tudo desfeito no fim do alvoroço, no avião.
Há silêncio judicial entre a respiração e a sentença de morte.
Há silêncio na indefinição do norte.
Silêncio nacional.
Omisso, submisso.
Há silêncio mortal.

Valéria Aureo