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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Mergulho





Atobás, gaivotas e fragatas
Oriundas do mar, além da ponte, vindas da ilha, 
Chegam-me em ternuras, em espirais de vento;
Elas me encontram frágil, arenosa montanha,
Esculpida de ondas, na baía da Guanabara.
Mesmo próxima da praia e da vida distante,
A geografia do Rio nos aproxima e nos separa
E me invadem palavras incomuns, com definição estranha
Sob a proteção desta invisível e submersa quilha,
Que me encontra, nau adormecida, na linha do horizonte.


Esquecida, deteriorada e úmida, ao relento

Chegam-me palavras tuas, de vento, em espirais;
Apontam-me, convictas, os portentosos brandais.
Semeiam meu extenuado espírito, fazem-no como antes...
Não mais extasiado e hirto nos inóspitos mirantes.
Eis que a poesia se oculta no mar inconstante
E vem se expor nua e tênue no Costão da Urca,
Onde o caminho ambíguo da praia se bifurca,
Na oposição do Leme e da Marquês de Abrantes
E me refaz perfeita, na Lagoa Rodrigo de Freitas,


Onde os ventos fortes têm as espirais desfeitas...

Pedregulhos, cascalhos esquecidos, pêndulos de palmeira.
Meu coração vagueia livre pela Praia da Ribeira,
Elaborando devaneios, vagando tímido em areais distantes...
Decolam aviões, pousam garças leves e vibrantes,
Em voos tão próximos, de pássaros que também avistas...
Ouço palavras fortes, palavras de aço, como adriças,
Que a vela do barco içam, ao rumo certo dos navegantes.
Abandonada a alma, outrora, ao relento, agora escuta...
Vindas da ilha, as palavras tuas, ternas, escritas no cais,


E erguem-me, para que a alma enfim se abrande
 

E siga, finalmente, em calma refeita, adiante,
Em harmonia uníssona dos aplacados vendavais.
Hoje alcanço alas de árvores centenárias,
Pés de abiu, beira-mar... Estação das barcas,
Que avisto e me encobrem do corpo as marcas:
As físicas, as lendárias, as imaginárias...
Invisíveis, cabos de aço e remotas amarras
Dos caiaques, de barcaça, de tosca canoa,
Que vislumbro ao longo da contígua Lagoa.


Vejo estações, barcas, navios e amendoeiras,

Que submergem nas águas límpidas das ilhotas.
Atobás, bem-te-vis, fragatas e gaivotas
Em bandos, voam em incontidas e aéreas farras,
Sobrevoando íntimos, o arquipélago das Cagarras...
Carregam alvissareiros, nas asas as sílabas errantes,
Que se dispersam em espaço e mares navegantes,
Trazendo à tona o espírito flutígeno, que nasceu magoado.
Sonhos leves, mergulhos, pelos ares e mares se vão:
Tuas palavras supersônicas decolam livres do Galeão, 

Em voos íntimos, para meu coração pacificado.
 
Autora: Valéria Áureo


Antologia literária- 2016 - Prêmio Rio De Palavras 450 Anos de História
Litteris Editora
 



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