No teu prato quis fazer-te poesia,
Arrumando arranjos, beijo ambrosia,
De alfaces florais, ao meio-dia;
Eram teus cinco anos e alguns dias.
Verdes tão claros, água. Turmalinas e mais...
Algas marinhas de esperanças, pérolas alvas quando tu
me sorrias.
Quis servir-te sonhos, doces de alecrim e alegrias,
Para saciar-te a fome de raras perguntas e recentes
geometrias.
Com espumas brancas de mar e açúcar confeitei glacês,
Fractais desenhados na toalha branca de linho.
Quis servir-te poemas de chocolate por sobremesa ...
Água fresca da talha, tão segura quanto a certeza.
Quebrada a casca frágil porcelana,
Do ovo restou-te precoce a bela,
A emergente caligrafia. E me escrevias...
Clara a abrangência de sintagmas e enigmas,
Como luz acesa, de teu coração cartesiano;
Óbvia a lucidez de um teorema, que só tu vias.
Fervilha tua cabeça atenta. Desvendo planos
De um menino de sonhos, peças de máquinas e
cálculos...
Dar-te beijos, nesse instante, era o meu mais tímido
projeto.
O garfo farto detém a ceia. Sobre o prato o ponto final.
A gema resta intocada e luzidia, entre a clara rota.
Deste-me o riso iluminado, quente, como um arquiteto,
Ardendo em muitos raios, reflexo repartido,sol,
Do sorriso de tua pequenina boca, então contido.