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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quem mordeu a maçã?




                 Da maçã do Paraíso ao império da Apple, pense diferente! 
        Muita transformação se deu, através dos séculos, em matéria de comunicação e símbolos. Para trás ficou o conselho maléfico da serpente à incauta Eva, para que ela desafiasse o Criador; que Eva comesse a maçã, adquirindo desta forma todo o conhecimento, até então negado, sob pena de perder o paraíso... Assim ela fez e a consequência disto todos sabem... Já imaginou se tivesse pensado diferente? Mas, cumprindo ou não os planos divinos, ela também quebrou um paradigma e cá estamos nós. Ao longo dos séculos vimos Newton, a maçã e a lei da Gravidade; A Bela Adormecida, a mordida na maçã, o sono e a espera do beijo do príncipe... E inúmeras quebras de paradigma. Até se chegar a Apple de Steve Jobs, muita maçã  do amor se comeu no parque de diversão.
        Apesar de tanta tecnologia, denunciando o inquestionável avanço da Humanidade, em matéria de conforto e vida prática, estou incomunicável por causa da greve dos correios. Não fosse a internet, não saberia a quantas anda o mundo. Desde então, não recebo nenhuma carta ou jornal. Hoje eu devo a minha inclusão ao mundo das idéias e da comunicação, a Steve Jobs. Uma incluída digital... Mas, antes dele,  não posso deixar de citar Alan Turing, que através de seus estudos de matemática pura, criou a teoria da computação e, não satisfeito, arregaçou as mangas e assumiu um papel central na construção dos primeiros computadores, com o seu protótipo Colossus, o tataravô do PC, este mesmo em que ora escrevo. O que falar de um matemático que venceu com cálculos as bombas de Hitler, decifrando as mensagens cifradas e localizando os submarinos durante a guerra? No mínimo, ele merecia uma estátua no Vale do Silício, um enterro com glórias de herói; seu nome deveria virar nome de universidades... Mas não virou, porque Turing quebrou um paradigma dito moral e foi condenado por "condutas de imoralidades” por ser homossexual. Ninguém sabe quem foi Alan Turing e o que representa no universo da computação. Turing foi um gênio de raciocínio brilhante, que, por preconceito contra a sua sexualidade, foi jogado cruelmente ao ostracismo. Não conseguindo suportar a perseguição, a castração química imposta e a condenação pública, Turing matou-se mordendo uma maçã envenenada com cianeto. Por isto escolheu  a morte!
        Graças a Alan Turing e ao renomado Steve Jobs, o fundador e ex-presidente do Conselho de Administração da Apple, eu ainda estou conectada ao universo das informações por um pequeno artefato na minha mesa. Outros podem até levar um computador na bolsa, ou no bolso. Perfeccionista, criativo, inovador e ousado, Jobs ajudou a tornar os computadores mais práticos e revolucionou a animação, a música digital e o telefone celular. Não bastasse isto, Jobs quis muito mais e, com a sua genialidade marcou o mundo da tecnologia ao apresentar produtos como o  Macintosh,  o iPod, o iPhone e o iPad. Para os mais jovens o mundo é quase inconcebível sem todo estes aparelhos eletrônicos. Eu, conservadora, afeita aos papéis, agora me rendi ao conselho de Jobs: - Pense diferente! Cedi às tais inovações, uma vez que os Correios me deixaram sem opção.

        Steve Jobs contribuiu não só para o avanço da tecnologia, mas para o progresso da Humanidade, dando continuidade à concepção primeira do que idealizou Alan Turing. Com suas idéias deu-se um passo gigantesco, a partir de uma novíssima conceituação de computador, então exclusividade dos engenheiros... Ele acreditava que o mundo não se contentaria com máquinas feitas por engenheiros e para engenheiros, que ocupassem espaços gigantescos. Queria colocar as máquinas sobre escrivaninhas e as colocou no bolso. Concebeu máquinas que mudaram o cenário da computação "de garagem" que vinha se desenvolvendo nos Estados Unidos nos anos 70,  para o restante de nós, os que seriam os usuários domésticos, os que, naquela ocasião ele chamaria de loucos, desajustados, alienados e rebeldes. Ainda mais... Ele deixa um legado intocável. Muito há por vir, em conseqüência da fantástica quebra de paradigmas...
         Diante de tanta inteligência ele não se julgou superior aos outros. Compartilhou. Acreditou em uma idéia.... Em suas palestras era categórico ao afirmar: "Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas! Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior!" De apurado preciosismo Jobs criou um padrão de qualidade que jamais podia falhar. Do número de parafusos de um notebook à cor da letra do ícone do atalho do Google no iPhone, ou a curvatura das quinas de um monitor, tudo devia obedecer ao padrão Jobs de qualidade, a partir de sua visão holística: um modo de pensar, ou considerar a realidade, segundo a qual nada pode ser explicado pela mera ordenação ou disposição das partes, mas antes pelas relações que elas mantém entre si e com o próprio todo.
         Jobs não parou de trabalhar com a proximidade do fim. Seguiu até um mês antes   da morte, quando enfim deixou o cargo de executivo-chefe da Apple. Mesmo assim controlou as escolhas do que fazer com seus últimos dias. Conversou com investidores e com o grupo de vice-presidentes da Apple sobre a apresentação do iPhone 4S, que ocorreu na véspera de sua morte. Mas a maior parte de seu tempo destinou à família. Ele não queria desperdiçar um minuto, pois seu tempo na Terra era limitado e queria controlar o que fazia e quais escolhas ainda estavam disponíveis. Encarou a morte com serenidade e deixou projetos a serem cumpridos por seus sucessores. Assim, sua genialidade não se esgotou  e a missão ainda não está totalmente cumprida, pois Steve Jobs certamente aparecerá em tecnologias ainda mais inovadoras.
        Se Alan Turing mordeu a maçã envenenada, Steve Jobs, ao contrário, soube tirar proveito dela. Eu preferia que Alan Turing não tivesse ficado preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas! Gostaria que Alan Turing não tivesse deixado que o barulho da opinião dos outros calasse a sua própria voz interior! Mas Jobs, o homem de conselhos brilhantes, só veio depois. A maçã já estava mordida...

Valéria Á. Cerqueira